segunda-feira, 28 de maio de 2012

Frutos do Espírito.

A Solenidade de Pentecostes sugere-nos discorrer sobre as ações decorrentes do derramamento do Espírito, conforme a lista de São Paulo: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio (Gl 5, 22-23). São virtudes. Portanto, estão ligadas ao hábito do bom comportamento.

O apóstolo, no entanto, não as nomeia como sendo obras. Chama-as de fruto do Espírito para enfatizar a fonte originária. Aliás, é o mesmo doador dos dons, carismas e ministérios (1 Cor 12). Com o uso do singular – o fruto revela que se trata de efeitos da ação divina, não da capacidade humana de fazer o bem. São operações do Espírito e da graça no crente, em contraposição às obras más da carne (o pecado) ou da “bondade da lei” (Rm 7, 7-16). Compreender a oposição estabelecida de carne e lei contra Espírito e graça é captar a peculiaridade e a complexidade do pensamento de Paulo.

O fiel de Cristo é um sujeito libertado da carne e da lei, pois, onde “se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2 Cor 3, 17). Ele possui o dom da “liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8, 21), aqueles que vivem na graça. O fiel atua livremente, mas é movido pelo totalmente Outro.

O primeiro fruto é o amor. Não o amor enquanto carisma ou dom maior (1 Cor 12), que operacionaliza a fé (Gl 5, 6). Trata-se da capacitação para amar na liberdade do dom de si, sem amarras, livre do egoísmo pecaminoso e da imposição legal. Livre para ser ágape de doação gratuita, de acordo com a recomendação: “pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros, pois toda a lei está contida numa só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,13-14). Este fruto do amor praticado supõe o dom da caridade, o Espírito de filhos derramado nos corações (Gl 4, 5-7) ou no íntimo dos batizados (Gl 3,26-27).

Outro fruto é a alegria que caracteriza quem é possuído pelo Espírito. O apóstolo declara que os tessalonicenses acolheram a Palavra “com a alegria do Espírito Santo” (1 Ts 1, 6). Recomenda-a com insistência: “Ficai sempre alegres” (1 Ts 5,16); “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: Alegrai-vos!”(Fl 4, 4). É sinônimo de quem está em Cristo e é agraciado.

Segue-se a paz, outro fruto. Enquanto dom, deriva da ação redentora de Cristo “nossa Paz” (Ef 2, 14), pelo qual “em um só Espírito temos acesso junto ao Pai” (Ef 2, 17-18). Na qualidade de fruto, ela é cultivada em prol das boas relações humanas: “vivei em paz uns com os outros” (1 Ts 5, 13). O fruto da paz é potencializado com a cooperação divina: “A paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 7). Então, o fruto da paz é sempre a existência virtuosa (Fl 4, 8-9).

A longanimidade (magnanimidade) manifesta a grandeza do coração ou da alma com a benignidade (benevolência) e a bondade. Os três frutos são sinônimos. Implicam-se reciprocamente para a construção do relacionamento comunitário. Um se define pelo outro. Sintetizam-se na procura de fazer sempre “o bem uns dos outros e de todos” (1 Ts 5, 15).

A fidelidade é a fé que confia no irmão pela caridade que “tudo crê” (1 Cor 13,7). A seguir, vem o fruto da mansidão, que, entre várias utilidades, atua na correção fraterna, para manter a paz, conforme a exortação: “corrigi com espírito de mansidão” (Gl 6, 1).

Por fim, o fruto do autodomínio. Ocorre em função do fim desejado e esperado. Traduz-se na prática do autocontrole ou equilíbrio interior, da superação de si pelo estilo de vida sóbrio ou ascético: “Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível” (1 Cor 9, 25). Tal empenho mortificante só se torna gerador da “vida no Espírito” (Rm 8) se houver colaboração habitual com a graça.

Aproveitemos a Solenidade de Pentecostes para melhor atuar os dons e carismas, em sintonia com os frutos do Espírito. São motivos para agradecer e louvar ao Divino Doador.

Dom Edson de Castro Homem
(Bispo Auxiliar)