segunda-feira, 18 de junho de 2012

Responsáveis pela vida.


A Conferência Rio + 20 não abre mão do desenvolvimento, desde que seja sustentável, em favor da vida no planeta. Apresentará uma carta de intenções para expressar a vontade de ação política dos que têm poder decisório nas nações participantes. Simultaneamente, o acontecimento favorece o debate ético, moral e jurídico, entre pessoas e grupos esclarecidos, as organizações não governamentais, a opinião pública em geral, favorecida pelos comentários e as informações da mídia. 

Convém revisitar a Ética de Hans Jonas. O filósofo reconstrói o ‘princípio responsabilidade’, como sendo um novo imperativo categórico: “agir de tal modo que a humanidade futura exista ainda depois de nós no ambiente de uma terra habitável”. O princípio é simples de entender. É fácil de desejar. Porém, é difícil de pôr em prática dada a complexidade, pluralidade e conflitualidade de interesses, interpretações e mentalidades. No entanto, apesar das controvérsias, avança na aceitação de suas implicações jurídicas e éticas. Progressivamente, compromete poderes públicos, governos e chefes de estado do mundo, diante do uso dos avanços tecnológicos, que interferem e ameaçam a vida planetária e a natureza no seu todo. 

Igualmente, o filósofo fundamenta uma biologia filosófica no ‘princípio vida’ pelo qual reforça o ‘princípio responsabilidade’. Visa ao respeito incondicional pela vida, no presente, para que haja futuro planetário: “só uma ética fundamentada na amplitude do ser, e não apenas na singularidade ou na peculiaridade do ser humano, é que pode ser de importância no universo das coisas”. Para tanto, teremos que aprender “a partir de uma interpretação da vida como um todo”, holística e objetivamente. Caso contrário, continuaremos a sermos vítimas “do subjetivismo ou de outras formas de relativismo”. Por isso, o ‘princípio vida’ há de ser “descoberto na natureza das coisas”. 

Também convém revisitar o Magistério da Igreja. Bento XVI na “Caritas et Veritate” diz com franqueza e sem reservas: “Se não é respeitado o direito à vida e à morte natural, se se torna artificial a concepção, a gestação e o nascimento do homem, se são sacrificados embriões humanos na pesquisa, a consciência comum acaba por perder o conceito de ecologia humana e, com ele, o de ecologia ambiental. É uma contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente natural, quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas. O livro da natureza é uno e indivisível, tanto sobre a verdade do ambiente como sobre a vertente da vida, da sexualidade, do matrimônio, da família, das relações sociais, numa palavra, do desenvolvimento humano integral. Os deveres que temos para com o ambiente estão ligados com os deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros; não se podem exigir uns e espezinhar os outros. Esta é uma grave antinomia da mentalidade e do costume atual, que avilta a pessoa, transtorna o ambiente e prejudica a sociedade ” (n. 51 c). À semelhança do filósofo citado nos faz olhar para a “amplitude do ser”, porém parte da totalidade da pessoa humana para o ser total das coisas, e não vice-versa. 

Ambos os pensadores indicam o procedimento ético para o “desenvolvimento sustentável”. O primeiro vai à vida pela inteligência da razão. O segundo acrescenta à razão a inteligência da fé. O encontro de ambos os caminhos é a contribuição da Igreja às teorias e ações ecológicas.



Dom Edson de Castro Homem
(Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio)